Mulheres e Controle Policial no Recife Oitocentista: entre Silêncios e Práticas de Liberdade
DOI:
https://doi.org/10.11117/rdp.v18i99.5864Palavras-chave:
Mulheres negras, polícia, século XIX, controle socialResumo
A partir de jornais e documentos policiais do século XIX, este artigo analisa a experiência de mulheres negras diante do controle urbano em uma Recife de fim dos oitocentos. Em diálogo com a história social da escravidão, pensamos o papel dessas mulheres na construção e significação do espaço urbano, e como, nesse fazer, elas se tornam alvo da ação policial. Buscamos indagar os modos como acionavam o controle, bem como suas aproximações com os policiais e os impactos dessa proximidade para o trabalho de rua das polícias. O fio condutor de todo o texto é a reflexão sobre as tensões da cidade negra enquanto espaço de práticas de liberdade e precarização. Metodologicamente, utilizamos o paradigma indiciário e os jogos de escala como estratégias historiográficas. Entre as conclusões da investigação estão o forte protagonismo das mulheres negras na criação e a significação do espaço urbano e, por isso mesmo, do controle policial. No que se refere a esta última questão, embora as mulheres gerem respostas específicas da polícia em termos burocráticos, o controle sobre elas incidente não se distancia daquele praticado sobre os homens, particularmente no que diz respeito aos níveis de violência experimentados.
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Referências
FONTES PRIMÁRIAS
Fundo da Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco
Diário de Pernambuco (1870-1880)
Diário de Pernambuco (1880-1890)
Jornal do Recife (1870-1880)
Jornal do Recife (1880-1890)
REFERÊNCIAS
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Sobre as autoras:
Fernanda Lima da Silva/ E-mail: ffernanda.slima@gmail.com
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Direito, Estado e Constituição da Universidade de Brasília (FD/UnB). Professora do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). Membra do Maré –- Núcleo de Estudos em Cultura Jurídica e Atlântico Negro (FD/UnB), do Centro de Estudos em Desigualdades e Discriminação (CEDD. FD/UnB) e do Grupo Asa Branca de Criminologia (UFPE/Unicap).
Camila Cardoso de Mello Prando/ E-mail: camilaprando@gmail.com
Doutora em Direito Penal pela Universidade Federal de Santa Catarina (2012). Professora adjunta de Criminologia e Direito penal dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Direito da Universidade de Brasília. Coordenadora do Centro de Estudos de Desigualdade e Discriminação (CEDD).
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