O Supremo Tribunal Federal Como Fórum de Protestos: Por Que o Simbolismo Importa em Processos Estruturais?
DOI:
https://doi.org/10.11117/rdp.v19i102.6142Palavras-chave:
Processos estruturais, Supremo Tribunal Federal, fórum de protestos, decisões estruturais, efeitos simbólicos.Resumo
Uma das principais críticas aos processos estruturais é a de que não são capazes de produzir transformações sociais relevantes. No máximo, geram efeitos simbólicos. A aparente dicotomia entre as dimensões simbólica e concreta pode ser superada se compreendermos o papel do Judiciário como um fórum de protestos para grupos vulneráveis. O presente artigo investiga o potencial do Supremo Tribunal Federal (STF) para atuar como um fórum de protestos em ações estruturais. Como metodologia, além da tradicional pesquisa bibliográfica e documental, revisita-se o caso Grootboom, um dos mais famosos e controversos exemplos de litígios estruturais na África do Sul. A partir da sua análise, será possível compreender o papel do Judiciário como fórum de protestos e a importância da dimensão simbólica. Além disso, recentes ações estruturais ajuizadas no STF são analisadas, para determinar como o Tribunal pode funcionar como um fórum de protestos. Constata-se que relevância simbólica das decisões judiciais pode produzir efeitos práticos importantes em médio e longo prazo, mostrando que as dimensões simbólica e concreta não são excludentes, mas complementares.
Downloads
Referências
ÁFRICA DO SUL. Breaking New Groung. Pretória, 2004. Disponível em: http://housingfinanceafrica.org/app/uploads/SouthAfrica-Breaking-New-Ground-BNG.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.
ÁFRICA DO SUL. Corte Constitucional da África do Sul. Mazibuko and Others vs. City of Johannesburg and Others (CCT 39/09). Joanesburgo, 2009. Disponível em: http://www.saflii.org/za/cases/ZACC/2009/28.pdf. Acesso em: 16 out. 2021.
ÁFRICA DO SUL. Emergency Housing Policy. Pretória, 2003. Disponível em: http://www.treasury.gov.za/documents/national%20budget/2003/ene/vote_29.pdf. Acesso em: 04 set. 2021.
ANDRÉA, Gianfranco Faggin Mastro. Estado de coisas inconstitucional no Brasil. 2ª ed.. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2021.
ARENHART, Sérgio Cruz. Decisões estruturais no direito processual civil brasileiro. Revista de Processo, [s.l.], v. 38, n. 225, p. 389-410, nov. 2013.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 347/DF. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário Oficial da União. Brasília, 2015a. Disponível em: http://www.jota.info/wp-content/uploads/2015/05/ADPF-347.pdf. Acesso em: 01 out. 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 635. Relator: Ministro Edson Fachin. Diário Oficial da União, Brasília, 2019. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5816502. Acesso em: 26 jun. 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 709. Decisão monocrática sobre os pedidos cautelares. Relator: Ministro Luis Roberto Barroso. Diário Oficial da União. Brasília, 2020a. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15343710124&ext=.pdf. Acesso em: 31 out. 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 742. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário Oficial da União, Brasília, 2020b. Disponível em http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6001379. Acesso em: 26 jun. 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 188.820. Relator: Ministro Edson Fachin. Diário Oficial da União, Brasília, 2021. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755414015. Acesso em: 21 out. 2021.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 592.581. Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Diário Oficial da União, Brasília, 2015b. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=2637302&numeroProcesso=592581&classeProcesso=RE&numeroTema=220. Acesso em: 21 out. 2021.
BRINKS, Daniel M.; GAURI, Varun. The Law’s Majestic Equality? The Distributive Impact of Judicializing Social and Economic Rights. Perspectives On Politics, [S.L.], v. 12, n. 2, p. 375-393, jun. 2014.
CAMPOS, Carlos Alexandre de Azevedo. Estado de Coisas Inconstitucional. Salvador: JusPodivm, 2016.
CONJUR. STF inicia audiência pública sobre letalidade policial no Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-abr-16/stf-inicia-audiencia-publica-letalidade-policial-rio. Acesso em: 21 out. 2021.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Recomendação nº 32. Relator: Ministro Edson Fachin. Diário Oficial da União, Brasília, 2020. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/03/62-Recomenda%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 21 out. 2021.
DEPOORTER, Ben. The upside of losing. Columbia Law Review, p. 817-862, 2013.
DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento nacional de informações penitenciárias – INFOPEN. Brasília: Ministério da Justiça – DEPEN, fevereiro de 2020a. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMmU4ODAwNTAtY2IyMS00OWJiLWE3ZTgtZGNjY2ZhNTYzZDliIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em: 20 dez. 2019.
EHEBRECHT, Daniel. The challenge of informal settlement upgrading: Breaking new ground in Hangberg, Cape Town?. Universitätsverlag Potsdam, 2015.
FRANÇA, Eduarda Peixoto da Cunha. Entre o diálogo e o monólogo institucional nos processos estruturais: limites e possibilidadss para a proteção de direitos socioeconômicos e culturais na perspectiva comparada no Sul Global. 2021. 205 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito do Recife, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2021.
FRANÇA, Eduarda Peixoto da Cunha; SERAFIM, Matheus Casimiro Gomes; ALBUQUERQUE, Felipe Braga. Processos estruturais e COVID-19: efetivação do direito à saúde em tempos de pandemia. Revista Culturas Jurídicas, v. 8, n. 19, p, 31-58, jan./abr., 2021.
FRIEDMAN, Barry. The politics of judicial review. Texas Law Review, v. 84, p. 257-337, 2005.
GALDINO, Matheus Souza. Processos estruturais: identificação, funcionamento e finalidade. Salvador: Juspodivm, 2020.
HELLER, Patrick. Democratic deepening in India and South Africa. Journal of Asian and African Studies, v. 44, n. 1, p. 123-149, 2009.
HERSHKOFF, Helen; MCCUTCHEON, Aubrey. Public Interest Litigation: An International Perspective. In: MCCLYMONT, Mary; GOLUB, Stephen (eds.). Many roads to justice: the law-related work of Ford Foundation grantees around the world. Nova York: The Ford Foundation, 2000. p. 283-296.
HUCHZERMEYER, Marie. Housing rights in South Africa: Invasions, evictions, the media, and the courts in the cases of Grootboom, Alexandra, and Bredell. In: Urban Forum. Springer Netherlands, 2003. p. 80-100.
KAMGA, Serges Alain Djoyou; HELEBA, Siyambonga. Crescimento Econômico Pode Traduzir-se em Acesso aos Direitos? Desafios das Instituições da África do Sul para que o Crescimento Conduza a Melhores Padrões de Vida. SUR Revista Internacional de Direitos Humanos, v. 9, n. 17, p. 87-113, 2012.
KLARE, Karl E. Legal culture and transformative constitutionalism. South African Journal on Human Rights, v. 14, n. 1, p. 146-188, 1998.
KOZICKI, Katya. Backlash: as “reações contrárias” à decisão do Supremo Tribunal Federal na ADPF no 153. In: SOUZA JÚNIOR, José Geraldo de et al. (Org.). O Direito Achado na Rua: introdução crítica à justiça de transição na América Latina. Brasília: UnB, 2015. v. 7, p. 192-196.
KRAMER, Larry D.. The People Themselves: Popular Constitutionalism and Judicial Review. New York: Oxford University Press, 2004.
LANDAU, David. The Reality of Social Rights Enforcement. Harvard International Law Journal, v. 53, n. 1, p. 190-247, 2012.
LANGFORD, Malcolm. Housing Rights Litigation: Grootboom and Beyond. In: LANGFORD, Michael; DUGARD, Jamie; MADLINGOZI, T.. Socio-Economic Rights in South Africa: Symbols or Substance? Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 187-225.
LIEBENBERG, Sanda. Participatory Justice in Social Rights Adjudication. Human Rights Law Review, [s.l.], v. 18, n. 4, p.623-649, 21 nov. 2018.
LOBEL, Jules. Courts as forums for protest. UCLA Law Review, v. 52, p. 477-561, 2004.
MBAZIRA, Christopher. Grootboom: A paradigm of individual remedies versus reasonable programmes. Southern African Public Law, v, 26, n. 1, p. 60-80, 2011.
NEJAIME, Douglas. Winning through losing. Iowa Law Review, v. 96, p. 941-1012, 2010.
ONUSIDA. 2020. Los Derechos Humanos en tiempos de Covid-19: Lecciones del VIH para una respuesta efectiva dirigida por la comunidad. Disponível em: https://www.unaids.org/sites/default/files/media_asset/human-rights-and-covid19_es.pdf. Acesso em: 31 out. 2020.
OPPITZ, Daniela Gomes. A crise do sistema prisional brasileiro: direitos fundamentais e o controle judicial de políticas públicas. 2018. 205f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Direito, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2018.
PEREIRA, Luciano Meneguetti. O Estado de Coisas Inconstitucional e a violação dos direitos humanos no sistema prisional brasileiro. Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos, v. 5, n. 1, p. 167-190, 2017.
PUGA, Mariela G. Litigio Estructural. 2013. 329f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Direito, Universidade de Buenos Aires, Buenos Aires, 2013.
RAMOS, Eival da Silva. Ativismo Judicial: parâmetros dogmáticos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.
RAY, Brian. Engaging with Social Rights: Procedure, Participation, and Democracy in South Africa's Second Wave. Cambridge: Cambridge University Press, 2016.
ROACH, Kent; BUNLENDER, Geoff. Mandatory relief and supervisory jurisdiction: when is it appropriate, just and equitable. The South African Law Journal, v. 122, p. 325-351, 2005.
RODRÍGUEZ-GARAVITO, César. Beyond the courtroom: The impact of judicial activism on socioeconomic rights in Latin America. Texas Law Review, v. 89, p. 1669-1698, p. 1681-1682, 2011.
ROSENBERG, Gerald N.. The Hollow Hope: can courts bring about social change?. Chicago: The University of Chicago Press, 1993.
ROUX, Theunis. The Politics of Principle: the first South African Constitutional Court, 1995-2005. New York: Cambridge University Press, 2013.
SCHLANGER, Margo. Beyond the hero judge: Institutional Reform Litigation as Litigation. Michigan Law Review, v. 97, p. 1994-2036, 1999.
SERAFIM, Matheus Casimiro Gomes. Compromisso significativo: contribuições sul-africanas para os processos estruturais no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2021.
SERAFIM, Matheus Casimiro Gomes; FRANÇA, Eduarda Peixoto da Cunha; NÓBREGA, Flavianne Fernanda Bitencourt. Processos estruturais e direito à moradia no Sul Global: contribuições das experiências sul-africana e colombiana. Revista Opinião Jurídica, Fortaleza, v. 19, n. 32, p. 148-183, 2021.
SILVA, Virgílio Afonso da. Beyond Europe and the United States: the wide world of judicial review. In: DELANEY, Erin F.; DIXON, Rosalind (Org.). Comparative Judicial Review, Northampton: Edward Elgar Publishing. p. 318-336.
SOUZA NETO, Cláudio Cruz; SARMENTO, Daniel. Notas sobre jurisdição constitucional e democracia: a questão da “última palavra” e alguns parâmetros de autocontenção judicial. Quaestio Iuris, v. 6, n. 2, p. 119-161, 2013.
TAMBWE, Giteya. The impact of the engagement principle on the right to have acces to adequate housing: from reasonableness to engagement. 2018. 58 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Universidade de Pretoria, Pretoria, 2018.
THIBAU, T. C. S. B. As ações coletivas e a judicialização de políticas públicas no Estado Democrático de Direito: possibilidades e limites. MPMG jurídico, v. 17, p. 33-36, 2009.
VALLE, Vanice Regina Lírio do. Backlash à decisão do Supremo Tribunal Federal: pela naturalização do dissenso como possibilidade democrática [online]. 2013. Disponível em: https://www.academia.edu/5159210/Backlash_%C3%A0_decis%C3%A3o_do_Supremo_Tribunal_Federal_pela_naturaliza%C3%A7%C3%A3o_do_dissenso_como_possibilidade_democr%C3%A1tica. Acesso em: 26 nov. 2019.
VIOLIN, Jordão. Processos estruturais em perspectiva comparada: a experiência norte americana na resolução de litígios policêntricos. 2019. 256 f. Tese (Doutorado) - Curso de Direito, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2019.
VITORELLI, Edilson. Processo Civil Estrutural: teoria e prática. Salvador: Juspodivm, 2020.
WESSON, Murray. Grootboom and Reassessing: Beyond the Socioeconomic Jurisprudence of the South African Constitutional Court. South African Journal On Human Rights, [s.l.], v. 20, n. 2, p. 284-308, p. 14-15, jan. 2004.
WILSON, Stuart; DUGARD, Jackie. Constitutional Jurisprudence: The First and Second Waves. In: LANGFORD, Michael; DUGARD, Jamie; MADLINGOZI, T.. Socio-Economic Rights in South Africa: Symbols or Substance? Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 35-62.
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Direito Público

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
O(s)/A(s) autores(as) dos manuscritos submetidos concorda(m) com as regras a seguir:
1) Todos os autores e autoras participaram do trabalho, são responsáveis pelas ideias e conceitos nele emitidos e atestam sua conformidade com os princípios éticos exigidos.
2) Todos os autores e autoras concordam com a forma final do trabalho e em ceder os direitos para publicação nos canais de publicação da Escola de Direito do IDP.
3) Todos os autores e autoras informam que o manuscrito é de sua autoria e assumem a responsabilidade pelo trabalho, declarando que a obra a ser publicada não infringe quaisquer direitos de propriedade intelectual de terceiros.
3.1) Em caso de submissão simultânea, além da reprovação imediata do artigo e comunicação ao(s) respectivo(s) periódico(s), a Revista Direito Público se reserva o direito de não receber novas submissões de todos os autores implicados pelo prazo de 2 (dois) anos, contado a partir da data de ciência do fato.
4) Todos os autores e autoras autoriza(m) a edição de seu trabalho e cede(m) à Escola de Direito do IDP os direitos de autor para reproduzir, editar e publicar ou veicular o citado trabalho em qualquer forma midiática, resguardada a autoria, em particular sob forma digital, em arquivo eletrônico online na Internet, bem como armazená-los em seu repositório de acordo com o desenvolvimento do processo editorial. Esta concessão não terá caráter oneroso para a Escola de Direito do IDP, não havendo remuneração sob qualquer modalidade pela utilização do referido material, tendo este o caráter de colaboração científica.