O Supremo Tribunal Federal Como Fórum de Protestos: Por Que o Simbolismo Importa em Processos Estruturais?

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11117/rdp.v19i102.6142

Palavras-chave:

Processos estruturais, Supremo Tribunal Federal, fórum de protestos, decisões estruturais, efeitos simbólicos.

Resumo

Uma das principais críticas aos processos estruturais é a de que não são capazes de produzir transformações sociais relevantes. No máximo, geram efeitos simbólicos. A aparente dicotomia entre as dimensões simbólica e concreta pode ser superada se compreendermos o papel do Judiciário como um fórum de protestos para grupos vulneráveis. O presente artigo investiga o potencial do Supremo Tribunal Federal (STF) para atuar como um fórum de protestos em ações estruturais. Como metodologia, além da tradicional pesquisa bibliográfica e documental, revisita-se o caso Grootboom, um dos mais famosos e controversos exemplos de litígios estruturais na África do Sul. A partir da sua análise, será possível compreender o papel do Judiciário como fórum de protestos e a importância da dimensão simbólica. Além disso, recentes ações estruturais ajuizadas no STF são analisadas, para determinar como o Tribunal pode funcionar como um fórum de protestos. Constata-se que relevância simbólica das decisões judiciais pode produzir efeitos práticos importantes em médio e longo prazo, mostrando que as dimensões simbólica e concreta não são excludentes, mas complementares.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Matheus Casimiro, Centro Universitário Christus (Unichristus). Fortaleza (CE). Brasil.

Professor de Direito Constitucional da Unichristus e professor substituto da UFC. Doutorando em Direito Público pela UERJ. Mestre e graduado em Direito pela UFC. Especialista em Filosofia e Teoria do Direito pela PUC-MG. Fundador e coordenador-geral do Núcleo de Pesquisa em Interpretação e Decisão Judicial (NUPID).

George Marmelstein, Centro Universitário Christus (Unichristus). Fortaleza (CE). Brasil.

Professor do Centro Universitário 7 de Setembro (UNI7), lecionando na graduação e no mestrado.
Doutor em Direito, Justiça e Cidadania no Século XXI pela Universidade de Coimbra. Mestre e Graduado em Direito pela UFC. Professor orientador do Núclero de Pesquisa em Interpretação e Decisão Judicial (NUPID). Juiz Federal.

Referências

ÁFRICA DO SUL. Breaking New Groung. Pretória, 2004. Disponível em: http://housingfinanceafrica.org/app/uploads/SouthAfrica-Breaking-New-Ground-BNG.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.

ÁFRICA DO SUL. Corte Constitucional da África do Sul. Mazibuko and Others vs. City of Johannesburg and Others (CCT 39/09). Joanesburgo, 2009. Disponível em: http://www.saflii.org/za/cases/ZACC/2009/28.pdf. Acesso em: 16 out. 2021.

ÁFRICA DO SUL. Emergency Housing Policy. Pretória, 2003. Disponível em: http://www.treasury.gov.za/documents/national%20budget/2003/ene/vote_29.pdf. Acesso em: 04 set. 2021.

ANDRÉA, Gianfranco Faggin Mastro. Estado de coisas inconstitucional no Brasil. 2ª ed.. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2021.

ARENHART, Sérgio Cruz. Decisões estruturais no direito processual civil brasileiro. Revista de Processo, [s.l.], v. 38, n. 225, p. 389-410, nov. 2013.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 347/DF. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário Oficial da União. Brasília, 2015a. Disponível em: http://www.jota.info/wp-content/uploads/2015/05/ADPF-347.pdf. Acesso em: 01 out. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 635. Relator: Ministro Edson Fachin. Diário Oficial da União, Brasília, 2019. Disponível em: https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5816502. Acesso em: 26 jun. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 709. Decisão monocrática sobre os pedidos cautelares. Relator: Ministro Luis Roberto Barroso. Diário Oficial da União. Brasília, 2020a. Disponível em: http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15343710124&ext=.pdf. Acesso em: 31 out. 2020.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 742. Relator: Ministro Marco Aurélio. Diário Oficial da União, Brasília, 2020b. Disponível em http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=6001379. Acesso em: 26 jun. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 188.820. Relator: Ministro Edson Fachin. Diário Oficial da União, Brasília, 2021. Disponível em: https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=755414015. Acesso em: 21 out. 2021.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 592.581. Relator: Ministro Ricardo Lewandowski. Diário Oficial da União, Brasília, 2015b. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=2637302&numeroProcesso=592581&classeProcesso=RE&numeroTema=220. Acesso em: 21 out. 2021.

BRINKS, Daniel M.; GAURI, Varun. The Law’s Majestic Equality? The Distributive Impact of Judicializing Social and Economic Rights. Perspectives On Politics, [S.L.], v. 12, n. 2, p. 375-393, jun. 2014.

CAMPOS, Carlos Alexandre de Azevedo. Estado de Coisas Inconstitucional. Salvador: JusPodivm, 2016.

CONJUR. STF inicia audiência pública sobre letalidade policial no Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-abr-16/stf-inicia-audiencia-publica-letalidade-policial-rio. Acesso em: 21 out. 2021.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Recomendação nº 32. Relator: Ministro Edson Fachin. Diário Oficial da União, Brasília, 2020. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/03/62-Recomenda%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 21 out. 2021.

DEPOORTER, Ben. The upside of losing. Columbia Law Review, p. 817-862, 2013.

DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento nacional de informações penitenciárias – INFOPEN. Brasília: Ministério da Justiça – DEPEN, fevereiro de 2020a. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMmU4ODAwNTAtY2IyMS00OWJiLWE3ZTgtZGNjY2ZhNTYzZDliIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em: 20 dez. 2019.

EHEBRECHT, Daniel. The challenge of informal settlement upgrading: Breaking new ground in Hangberg, Cape Town?. Universitätsverlag Potsdam, 2015.

FRANÇA, Eduarda Peixoto da Cunha. Entre o diálogo e o monólogo institucional nos processos estruturais: limites e possibilidadss para a proteção de direitos socioeconômicos e culturais na perspectiva comparada no Sul Global. 2021. 205 f. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito do Recife, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2021.

FRANÇA, Eduarda Peixoto da Cunha; SERAFIM, Matheus Casimiro Gomes; ALBUQUERQUE, Felipe Braga. Processos estruturais e COVID-19: efetivação do direito à saúde em tempos de pandemia. Revista Culturas Jurídicas, v. 8, n. 19, p, 31-58, jan./abr., 2021.

FRIEDMAN, Barry. The politics of judicial review. Texas Law Review, v. 84, p. 257-337, 2005.

GALDINO, Matheus Souza. Processos estruturais: identificação, funcionamento e finalidade. Salvador: Juspodivm, 2020.

HELLER, Patrick. Democratic deepening in India and South Africa. Journal of Asian and African Studies, v. 44, n. 1, p. 123-149, 2009.

HERSHKOFF, Helen; MCCUTCHEON, Aubrey. Public Interest Litigation: An International Perspective. In: MCCLYMONT, Mary; GOLUB, Stephen (eds.). Many roads to justice: the law-related work of Ford Foundation grantees around the world. Nova York: The Ford Foundation, 2000. p. 283-296.

HUCHZERMEYER, Marie. Housing rights in South Africa: Invasions, evictions, the media, and the courts in the cases of Grootboom, Alexandra, and Bredell. In: Urban Forum. Springer Netherlands, 2003. p. 80-100.

KAMGA, Serges Alain Djoyou; HELEBA, Siyambonga. Crescimento Econômico Pode Traduzir-se em Acesso aos Direitos? Desafios das Instituições da África do Sul para que o Crescimento Conduza a Melhores Padrões de Vida. SUR Revista Internacional de Direitos Humanos, v. 9, n. 17, p. 87-113, 2012.

KLARE, Karl E. Legal culture and transformative constitutionalism. South African Journal on Human Rights, v. 14, n. 1, p. 146-188, 1998.

KOZICKI, Katya. Backlash: as “reações contrárias” à decisão do Supremo Tribunal Federal na ADPF no 153. In: SOUZA JÚNIOR, José Geraldo de et al. (Org.). O Direito Achado na Rua: introdução crítica à justiça de transição na América Latina. Brasília: UnB, 2015. v. 7, p. 192-196.

KRAMER, Larry D.. The People Themselves: Popular Constitutionalism and Judicial Review. New York: Oxford University Press, 2004.

LANDAU, David. The Reality of Social Rights Enforcement. Harvard International Law Journal, v. 53, n. 1, p. 190-247, 2012.

LANGFORD, Malcolm. Housing Rights Litigation: Grootboom and Beyond. In: LANGFORD, Michael; DUGARD, Jamie; MADLINGOZI, T.. Socio-Economic Rights in South Africa: Symbols or Substance? Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 187-225.

LIEBENBERG, Sanda. Participatory Justice in Social Rights Adjudication. Human Rights Law Review, [s.l.], v. 18, n. 4, p.623-649, 21 nov. 2018.

LOBEL, Jules. Courts as forums for protest. UCLA Law Review, v. 52, p. 477-561, 2004.

MBAZIRA, Christopher. Grootboom: A paradigm of individual remedies versus reasonable programmes. Southern African Public Law, v, 26, n. 1, p. 60-80, 2011.

NEJAIME, Douglas. Winning through losing. Iowa Law Review, v. 96, p. 941-1012, 2010.

ONUSIDA. 2020. Los Derechos Humanos en tiempos de Covid-19: Lecciones del VIH para una respuesta efectiva dirigida por la comunidad. Disponível em: https://www.unaids.org/sites/default/files/media_asset/human-rights-and-covid19_es.pdf. Acesso em: 31 out. 2020.

OPPITZ, Daniela Gomes. A crise do sistema prisional brasileiro: direitos fundamentais e o controle judicial de políticas públicas. 2018. 205f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Direito, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2018.

PEREIRA, Luciano Meneguetti. O Estado de Coisas Inconstitucional e a violação dos direitos humanos no sistema prisional brasileiro. Revista Interdisciplinar de Direitos Humanos, v. 5, n. 1, p. 167-190, 2017.

PUGA, Mariela G. Litigio Estructural. 2013. 329f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Direito, Universidade de Buenos Aires, Buenos Aires, 2013.

RAMOS, Eival da Silva. Ativismo Judicial: parâmetros dogmáticos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

RAY, Brian. Engaging with Social Rights: Procedure, Participation, and Democracy in South Africa's Second Wave. Cambridge: Cambridge University Press, 2016.

ROACH, Kent; BUNLENDER, Geoff. Mandatory relief and supervisory jurisdiction: when is it appropriate, just and equitable. The South African Law Journal, v. 122, p. 325-351, 2005.

RODRÍGUEZ-GARAVITO, César. Beyond the courtroom: The impact of judicial activism on socioeconomic rights in Latin America. Texas Law Review, v. 89, p. 1669-1698, p. 1681-1682, 2011.

ROSENBERG, Gerald N.. The Hollow Hope: can courts bring about social change?. Chicago: The University of Chicago Press, 1993.

ROUX, Theunis. The Politics of Principle: the first South African Constitutional Court, 1995-2005. New York: Cambridge University Press, 2013.

SCHLANGER, Margo. Beyond the hero judge: Institutional Reform Litigation as Litigation. Michigan Law Review, v. 97, p. 1994-2036, 1999.

SERAFIM, Matheus Casimiro Gomes. Compromisso significativo: contribuições sul-africanas para os processos estruturais no Brasil. Belo Horizonte: Fórum, 2021.

SERAFIM, Matheus Casimiro Gomes; FRANÇA, Eduarda Peixoto da Cunha; NÓBREGA, Flavianne Fernanda Bitencourt. Processos estruturais e direito à moradia no Sul Global: contribuições das experiências sul-africana e colombiana. Revista Opinião Jurídica, Fortaleza, v. 19, n. 32, p. 148-183, 2021.

SILVA, Virgílio Afonso da. Beyond Europe and the United States: the wide world of judicial review. In: DELANEY, Erin F.; DIXON, Rosalind (Org.). Comparative Judicial Review, Northampton: Edward Elgar Publishing. p. 318-336.

SOUZA NETO, Cláudio Cruz; SARMENTO, Daniel. Notas sobre jurisdição constitucional e democracia: a questão da “última palavra” e alguns parâmetros de autocontenção judicial. Quaestio Iuris, v. 6, n. 2, p. 119-161, 2013.

TAMBWE, Giteya. The impact of the engagement principle on the right to have acces to adequate housing: from reasonableness to engagement. 2018. 58 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Universidade de Pretoria, Pretoria, 2018.

THIBAU, T. C. S. B. As ações coletivas e a judicialização de políticas públicas no Estado Democrático de Direito: possibilidades e limites. MPMG jurídico, v. 17, p. 33-36, 2009.

VALLE, Vanice Regina Lírio do. Backlash à decisão do Supremo Tribunal Federal: pela naturalização do dissenso como possibilidade democrática [online]. 2013. Disponível em: https://www.academia.edu/5159210/Backlash_%C3%A0_decis%C3%A3o_do_Supremo_Tribunal_Federal_pela_naturaliza%C3%A7%C3%A3o_do_dissenso_como_possibilidade_democr%C3%A1tica. Acesso em: 26 nov. 2019.

VIOLIN, Jordão. Processos estruturais em perspectiva comparada: a experiência norte americana na resolução de litígios policêntricos. 2019. 256 f. Tese (Doutorado) - Curso de Direito, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2019.

VITORELLI, Edilson. Processo Civil Estrutural: teoria e prática. Salvador: Juspodivm, 2020.

WESSON, Murray. Grootboom and Reassessing: Beyond the Socioeconomic Jurisprudence of the South African Constitutional Court. South African Journal On Human Rights, [s.l.], v. 20, n. 2, p. 284-308, p. 14-15, jan. 2004.

WILSON, Stuart; DUGARD, Jackie. Constitutional Jurisprudence: The First and Second Waves. In: LANGFORD, Michael; DUGARD, Jamie; MADLINGOZI, T.. Socio-Economic Rights in South Africa: Symbols or Substance? Cambridge: Cambridge University Press, 2013. p. 35-62.

Downloads

Publicado

2022-09-06

Como Citar

Casimiro, M., & Marmelstein, G. (2022). O Supremo Tribunal Federal Como Fórum de Protestos: Por Que o Simbolismo Importa em Processos Estruturais?. Direito Público, 19(102). https://doi.org/10.11117/rdp.v19i102.6142