Os Livros de Batismo e a Arte de Burlar a Legislação de Proibição do Tráfico Internacional de Escravizados

Uma Análise Documentação Batismal Dentro de um Projeto de História Digital

Autores

DOI:

https://doi.org/10.11117/rdp.v19i101.6166

Palavras-chave:

Batismo, Escravidão, Abolição, História da África, História Digital

Resumo

Este artigo objetiva questionar as razões pelas quais um número significativo de africanos escravizados teve seus batismos registrados na Igreja de Santo Amaro de Ipitanga, apesar de viverem em Salvador, muitas léguas de distância da dita Matriz. A hipótese aberta é de que após o alvará de 1831 (que proibia o tráfico internacional de escravos), senhores de engenho na região de Brotas começaram a batizar seus escravizados em capelas privadas e registrá-los em locais distantes, como a Igreja de Santo Amaro de Ipitanga. Tais atos eram uma estratégia para contornar as leis brasileiras de proibição do tráfico internacional de escravizados. Para a análise de vasta documentação que aborda um período de cem anos, pré e pós proibição do tráfico, utilizamos os dados pessoais de africanos que constam no banco de dados do projeto Freedom Narratives. A análise de trajetórias pessoais e movimentação espacial foi feita a partir de um exame comparativo possível através da metodologia criada pelo projeto para analisar o que se compreende como “big data”.

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Biografia do Autor

Erika Melek Delgado, King's College London, Reino Unido

Érika Melek Delgado é pós-doutora no King's College London, Reino Unido. Suas pesquisas e publicações focam em História da África e infância Africana no século XVIII e XIX. Ela é investigadora principal do projeto “Historical African Childhood” (Projeto HAC), e Diretora do Projeto Freedom Narratives. Anteriormente, ela teve um posto de dois anos como Pós-doutorado no Instituto Harriet Tubman para Pesquisa sobre a África e suas Diásporas, na Universidade de York, Canadá. Ela possui o título de PhD em História pela University of Worcester, Reino Unido, Mestrado em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Telma Gonçalves Santos, Freedom Narratives Project

Nascida em Brasília- Distrito Federal, a historiadora e bisneta de escravizados africanos Telma Gonçalves Santos vem se dedicando, nos últimos 10 anos à pesquisa sobre a participação dos tecidos importados para a compra de africanos centro ocidentais. Em 2020 defendeu sua tese de doutorado entitulada: ‘Tecidos Europeus e Asiáticos nas Rotas Portuguesas do Tráfico de Escravizados Africanos Centro Ocidentais para a Bahia entre os Anos de 1695 – 1750’. Um estudo que contribui para o entendimento do papel do continente africano na formação do mundo moderno, sobretudo no que diz respeito ao impacto das demandas dos chefados africanos sobre o sistema de produção têxtil da Inglaterra e demais partes da Europa central. Desde 2000, tem ministrado aulas para alunos da escola pública em Salvador. Em 2019 passou a integrar o time do Freedom Narratives.

Nina Maria de Meira Borba, York University, Canadá

Nina Borba é graduada em História pela York University, Canadá. Nina é assistente de pesquisa do projeto Freedom Narratives desde setembro de 2020. Apaixonada pelo estudos da diáspora africana no Brasil e pela disseminação do conhecimento histórico através de projetos inovadores em Humanidades Digitais, Nina continuará seguindo seu caminho acadêmico focando nesses temas como futuro interesse de pesquisa.

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Publicado

2022-04-29

Como Citar

Melek Delgado, E., Gonçalves Santos, T., & de Meira Borba, N. M. (2022). Os Livros de Batismo e a Arte de Burlar a Legislação de Proibição do Tráfico Internacional de Escravizados: Uma Análise Documentação Batismal Dentro de um Projeto de História Digital. Direito Público, 19(101). https://doi.org/10.11117/rdp.v19i101.6166